Agora que O Coração da Magia finalmente saiu e muitos de vocês já estão lendo, posso começar a vazar as milhares de coisas que cortei da versão original. Algumas delas vocês já viram (clique aqui pra ver todos os posts relacionados), mas agora é que começo a divulgar os cortes que contém mudanças (e spoilers) realmente significativos.
Abaixo segue uma sequência um pouco incerta de trechos. Eu não sei o capítulo exato dessas ações, mas sei que compreendem o trecho logo depois do incêndio na Casa Azul. Como vocês irão perceber, muita coisa mudou - desde o que causou o início do fogo (era uma coisa muito mais sem graça) até o desfecho e as consequências. Não me arrependo nadinha das minhas escolhas e, espero, vocês vão concordar comigo!
- Mãe! – escutei Dylan gritar lá de cima. Tentei não dar atenção, mas minha mãe não respondeu.
- Mãe! – ele insistiu. Nada da minha mãe ainda.
- Yara, vou ver qual é o problema do meu irmão e volto num segundo. – avisei. Ela assentiu, e eu corri pro andar de cima.
Cheguei na porta entreaberta do quarto do Dylan mais rápido do que eu poderia prever. Ele estava jogado na cama, sem camisa.
- O que foi? – perguntei, com um suspiro.
- Cadê a mamãe? – ele quis saber, e eu dei de ombros.
- Algum problema?
- Não, só queria avisar que o Bryan ficou de botar fogo nas folhas secas que ele juntou no quintal, então ela realmente deveria...
Mas ele parou de falar quando sentimos o cheiro de queimado. Muito forte.
- Filho da mãe! – Dylan exclamou, correndo pra janela pra fecha-la, e então parou. Colocou a cabeça pra fora, e me olhou, horrorizado.
- O que foi? – eu quase gritei. De repente, eu estava em pânico.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – escutei Yara gritar lá embaixo.
Comecei a correr em direção às escadas, mas ela já estava ali, na metade do caminho, os olhos tão assustados quanto os do meu irmão. Colin e Freddy logo apareceram no corredor. Ninguém falou nada, e a fumaça começou a encher o corredor.
- FOGO! – escutei alguém lá embaixo gritar. Bryan.
- A CASA ESTÁ PEGANDO FOGO! – era minha mãe dessa vez.
Essa não!
A correria começou, meus irmãos correndo para salvar suas coisas, Yara ainda parada, estática e apavorada, e eu pensando rápido.
Eu precisava salvar os livros. Eu precisava salvar o baú de Dorothi, com os livros, e o espelho, o nosso espelho. As nossas memórias, o nosso conhecimento.
- Yara, corra daqui e busque ajuda! – mandei. Ela assentiu, mas gritou quando eu dei as costas, em direção oposta à única saída.
- Malena, onde você está indo? – ela berrou, mas eu não lhe dei ouvidos.
- FUJA! – foi tudo que eu gritei de volta.
Porque agora o fogo já estava visível ali dentro. A maior parte da casa era feita de madeira, então estava cedendo muito rápido. Não ia durar muito. Eu precisava correr.
Corri contra meus irmãos, todos gritando que eu precisava sair dali. O nosso banheiro já era, assim como quarto dos meus pais. Nós estávamos ferrados. Alcancei a escada que ia pro sótão e voei para dentro. Meu quarto estava todo enfumaçado, me fazendo tossir, mas ainda intacto. Toy estava na janela.
- O que você ainda está fazendo aqui? – eu perguntei pra ele, completamente histérica.
- Esperando você se matar, eu suponho! – me respondeu, sem parecer abalado. Apenas severo – Veio salvar suas coisas?
- Nossas coisas. – corrigi – Minhas, de Dorothi e da nossa família.
- Malena, você perdeu a cabeça? Quanto tempo você acha que vai demorar até que sua casa exploda?
- Toy, saia daqui! Eu posso dar um jeito!
Comecei a me mover, arrastando o espelho o mais rápido que seu peso me permitia. Então, num reflexo, estendi uma das mãos para os livros.
Eles voaram, me seguindo.
Mas eu não estava com tempo de ficar impressionada, pasma ou surpresa. Eu simplesmente soltei o espelho e ordenei ao baú que se abrisse, e ele se abriu. Ainda sem tocar em nada, fiz tudo cair dentro dele, lacrei-o, e o ergui, correndo, com um baú me seguindo por si só, e comecei a descer.
Mas não tinha mais pra onde ir. Somente a minha metade do corredor estava intacta. O fogo estava me cercando, e eu sentia seu calor, suava por causa dele. Queria respirar e não podia. Estava cercada por todo os lados.
- Malena, aqui! – olhei para trás, para a grande janela no final do corredor, bem atrás de mim. Toy estava empoleirado em duas patas, olhando para ela.
Não me importava se era suicídio. Se eu ia morrer, não seria engolida pelo fogo. Ia morrer tentando escapar. Aquela janela dava pra parte da frente da nossa casa, já apinhada de gente.
Eu precisava quebrá-la.
Uma das minhas mãos ainda mantinha o baú no alto, enquanto a outra se estendia à minha frente, sentindo o vidro. Fechei-a em punho, e a janela se estilhaçou, fazendo Toy miar alto. Eu o pequei no colo e fui para a beirada da janela.
Tinha muita gente ali. Meus pais, meus irmãos, curiosos, bombeiros. Várias pessoas gritaram, e os bombeiros se apressaram a correr e criar uma cama pra me segurar. A ordem foi alta e clara, vinda de algum deles:
- PULE!
E eu obedeci.
Fechei os olhos pra não acompanhar a queda, sabendo que Toy estava me arranhando de medo e o baú caia atrás de mim. Tudo bem, desde que não acertasse a minha cabeça, ou se estilhaçasse no chão. Caí como se pesasse cem quilos a mais sobre a cama elástica, afundando antes de voltar a subir. O baú caiu logo atrás de mim, errando minha cabeça por uma questão de centímetros.
- Malena! – mamãe me envolveu num abraço apertado, e eu senti as lágrimas dela caindo na minha pele quente. Eu ainda estava tossindo, mas a abracei de volta.
- Ta todo mundo bem? – eu perguntei, desesperada. Atrás de mim, a Casa Azul era consumida pelas chamas.
- O seu irmão, Malena! – minha mãe gritou, e eu a soltei, em pânico – Adam está lá dentro!
Ouvimos um estrondo. Olhei pra trás, e um bombeiro saía de dentro da casa às pressas.
Me levantei sem pensar duas vezes.
- MALENA! – minha mãe berrou, mas eu não estava mais escutando.
Eu precisava correr, e ser muito rápida e muito eficaz.
Os bombeiros formaram uma barreira à minha frente pra me impedir de passar, mas eu só precisei de um mero movimento dos meus braços pra tirá-los da minha frente. Minha casa estava caindo, consumida pelo fogo, e meu irmão burro estava em algum lugar ali dentro.
Entrei. Estava fervendo ali. Era o inferno, o final merecido para uma casa que pertencera à bruxas.
Em algum lugar no meu subconsciente, Dorothi acordou. Ela não falava, não pensava, não me controlava, mas eu a sentia ali de novo. Uma lembrança quente, terrível e dolorosa me brotou na cabeça.
Era como se eu estivesse de volta àquela fogueira que havia me matado na outra vida. Eu estava de volta ao momento mais terrível e doloroso daquela vida, à morte mais horrenda.
Mas eu não ia morrer daquele jeito de novo.
Outro estrondo, e eu impedi, por muito pouco, que uma parte do teto caísse sobre a minha cabeça. Havia fogo por todos os lados, e eu não conseguia respirar como precisava. Eu estava suando, e me cansando rápido demais. Não ia conseguir.
Mesmo assim, continuei. A escada estava aos pedaços, mas ia ter que servir pra alguma coisa. Meus pés iam queimar e eu ia pro hospital depois dessa, mas que se dane. Meu irmão estava lá dentro. Um Gördon faltando transformaria aquela família em algo desprezível. Os Gördon eram uma família grande. Éramos sete filhos, e eu não ia admitir que nos tornássemos seis por falta de coragem.
Por isso, me lancei pelas escadas.
Subi mais rápido do que podia gritar pelos meus pés tocando as chamas, pela minha calça jeans sendo consumida, pela minha pele queimando. Bati em mim mesma pra abafar o fogo quando cheguei ao segundo andar.
Ali estava ele, Adam, enrolado em cobertores e rolando de um lado pro outro. Outro pedaço do teto caiu. Nós não tínhamos muito tempo.
- ADAM! – eu gritei, correndo até ele.
Ajudei-o a abafar as chamas em torno de si. Meu irmão estava tão abalado e tão fraco que não respondeu. Passei seu braço pelos meus ombros e carreguei a maior parte do seu peso, andando em direção à janela.
- Malena... – ele disse, mas eu o interrompi.
- Fale menos e ande mais! – exclamei, severa.
Um passo, e dois, e três. A janela não chegava nunca e a casa estava caindo. Quanto tempo mais nós tínhamos antes de morrer, queimados ou soterrados?
Mas estávamos quase chegando. Eu ia conseguir, ia salvar o meu irmão. Mais um passo. E outro. E...
O chão se abriu.
Dei um grito, e Adam mal reagiu. Tínhamos um abismo enorme entre nós e a janela. Droga.
Será que Adam ia notar se eu fizesse algo realmente anormal?
Quem liga? O que é mais importante, manter segredo ou salvar a vida dele, droga?
Ergui a mão livre e puxei as tábuas de volta. Ia ter que segura-las para chegar até a janela, mas ia ter que servir. Eu só esperava ser forte o suficiente.
Mais um pedaço do teto caiu, dessa vez bem diante de nós, e se espatifou no chão que eu estava segurando. Ele tremeu. Eu dei um passo à frente, arrastando Adam comigo.
O chão estava instável, mas agüentava o nosso peso. Eu não tinha tempo para ser cautelosa e lerda, contudo.
Uma mão segurava Adam firmemente enquanto a outra se mantinha estendida acima do chão, segurando-o no lugar. Pus Adam na janela, onde ele pareceu acordar e olhou pra mim. Me distraí por um instante, e o chão vacilou.
- PULE! – ouvi as pessoas falando lá debaixo.
Adam ainda me olhava como se eu fosse um ET. O que, considerando o que ele estava vendo, podia ser muito possível na cabeça dele.
Então eu apenas o empurrei e me empoleirei na janela, soltando o chão, que caiu no mesmo instante.
Adam já estava sendo socorrido, e eu já estava sendo convidada a pular. Não pensei duas vezes e me lancei novamente.
- Malena?
O sussurro era doce, e eu não sabia se vinha do fundo da minha memória ou do mundo exterior. Eu nem tinha certeza se havia um mundo exterior. Eu me sentia tão trancada dentro de mim mesma que pra mim isso era tudo.
- Como ela está?
- Vai ficar melhor em breve. As queimaduras não foram tão graves como era de se esperar.
- Que bom. Se importa se eu ficar aqui com ela?
- Não, vá em frente, filho. Eu preciso mesmo acalmar o pessoal na sala de espera...
Minha mente jamais criaria uma conversa tão clara como aquela só pra preencher o vazio do escuro. Tentei achar meus olhos pra abri-los, mas eles estavam perdidos para mim. Tentei mexer algo maior, então.
- Malena? – o sussurro voltou, ansioso, seguido da sensação de ser tocada. Um toque muito leve, Deus sabe aonde – Você está acordada?
“Não,” eu queria responder. Mas eu não encontrava minha voz. Eu não encontrava nada.
A única coisa que eu conseguia encontrar era a memória de estar sendo queimada. Não numa fogueira com personagens antigos numa vilazinha, ao lado de seis outras mulheres. Uma fogueira maior, uma fogueira que eu amava. Eu estava sendo queimada viva para salvar outra pessoa.
E doía.
- Enfermeira! – ouvi a mesma voz gritar, então – Ajude, ela está gritando!
- O que houve? – outra voz perguntou, instantes depois – Ela acordou?
- Não, ela só começou a gritar! Acho que está com dor!
Movimento. Muito movimento. Eu nem percebia que estava gritando.
Senti um toque, um aperto, um carinho. As regiões do meu corpo estavam perdidas, e, pela intensidade crescente do aperto, eu acreditava que estava gritando muito. Tentei apertar de volta, mas não sabia se estava conseguindo.
Então uma dorzinha mínima, e a dor que a memória me havia trazido começou a desaparecer. Assim como a minha semi-consciência.
- Vai passar. – o sussurro disse, de novo.
E eu me joguei com tudo na crença de que ele estava certo.
A primeira coisa que eu vi foi luz. Forte, brilhante, machucando meus olhos ultra-sensíveis à claridade. Fechei-os com força e os abri de novo, procurando me acostumar.
Balancei a cabeça, mas tudo o que eu conseguia ver era branco e mais branco. Verde, branco, branco. Verde?
Pausei meus olhos sobre a mancha verde, esperando ela clarear, piscando algumas vezes. Ela se separou, formando duas bolas, que continham pontos pretos e eram cercadas por mais branco. Logo, muito mais se focalizou. Traços certinhos, um nariz perfeito, lábios finos e bem desenhados, tez bronzeada e fios louros.
- Sam... – ouvi minha voz rouca e fraca demais sussurrando. Sam ainda estava embaçado, mas o vi sorrindo, expondo seus dentes branquíssimos.
- Que bom que você acordou! – ele disse, bem baixinho – Já faz umas... – baixou a cabeça por um instante – Dezoito horas que eu to aqui do seu lado. Você está bem?
Desviei os olhos dele por um segundo, e enxerguei uma jarra de água logo atrás. Minha boca e minha garganta ficaram ainda mais secas.
- Água... – eu implorei, erguendo uma mão.
A jarra decolou e se espatifou contra a parede do outro lado do quarto.
- Droga... – eu disse, desesperada por um pouco de água.
- Eu vou buscar mais. – Sam prometeu, e eu o ouvi dizendo – Espero que ninguém tenha ouvido. – entre os dentes.
Mas eu estava preguiçosa demais pra lhe dar atenção. Ou dar atenção a qualquer coisa.
Virei pro lado e dormi de novo.
Um tempo indeterminado se passou antes que eu acordasse pra valer. E, quando isso aconteceu, não só os olhos verdes intensos de Sam estavam me vigiando, como também montes de outros pares.
Eu estava muito mais acordada dessa vez, e reconheci de pronto todos eles sem precisar percorrer seus rostos ou esperar o mundo entrar em foco. Mamãe, papai, Colin, Dylan, Eric, Ned. E balões. Muitos balões.
- Ta rolando uma festa aqui e eu não to sabendo? – brinquei, e todo mundo riu.
- Bem vinda de volta, princesa!- Mamãe exclamou, numa felicidade chorosa. Fiz uma careta.
- Há quanto tempo? – perguntei, e papai consultou o relógio.
- Um dia e duas horas desde que você deu entrada no hospital. – respondeu, pro meu choque – Tinha respirado muita fumaça. Ficou desacordada a maior parte do tempo.
- E teve queimaduras feias por causa da sua maluquice de ir atrás do Adam. – mamãe acrescentou, e só a menção do nome me trouxe várias coisas à cabeça.
- Como o Adam está? E a Yara? Ta todo mundo bem?
Caiu silêncio na sala. Percebi que tinha mais motivos pra silêncio que para comemoração. O que eu não estava sabendo?
- O Adam está bem, graças a você. – papai contou, calmamente, e uma parte de mim se acalmou.
Não a outra.
- E a Yara? –insisti.
Ninguém respondeu. Pelo menos, não pelos segundos, ou minutos que se passaram.
- Gente? – cobrei, e Sam beijou minha mão. Ardeu um pouco. Olhei para ele.
- Alguma coisa atingiu a Yara enquanto ela tentava sair. – Sam me contou, e meu coração travou antes de acelerar a mil batimentos por minuto – Foi uma pancada bem feia.
- Mas ela vai ficar bem? – indaguei, meio desesperada. Olhei pros outros rostos no quarto, todos sérios. Ned parecia diante de um túmulo – Não vai?
- Ela está em coma, Malena. – Sam me respondeu.
Eu estava chorando no instante seguinte.
- O QUÊ? – eu gritei – NÃO!
- Malena, calma! – meu pai exclamou, mas eu continuava me debatendo, em desespero.
Ela estava em coma. Minha melhor amiga estava em coma porque eu tinha insistido que ela fosse estudar na minha casa.
Se ao menos eu não tivesse pedido...
- Malena! – continuavam exclamando, dessa vez meus irmãos juntos ao coro. Me seguraram pra que eu não me debatesse e derrubasse os equipamentos ou me machucasse mais. Percebi que meus dois pés estavam enfaixados.
Então, eu parei.
Relaxei na cama, ainda soluçando. Colin e Sam ainda me seguravam, como se não tivessem certeza de que eu havia desistido de me chacoalhar pra todos os lados. Quando viram que eu realmente estava mais calma, me soltaram.
- Quais são as chances? – perguntei, então, tentando soar mais calma. Era difícil, soluçando daquele jeito.
- Boas. – meu pai respondeu com um suspiro – Não há danos no cérebro. Os exames dela estão bons. Estão apenas esperando que ela acorde.
- Eles têm certeza de que é um coma? – indaguei, me sentindo como uma criança, soando como uma. Meu pai assentiu, devagar.
- Ela já estava desacordada quando foi tirada de dentro da casa, e não acordou nenhuma vez. Não foi sedada e não reclamou de dor. Nem mesmo um gemido.
Aquilo em atingiu como um soco, doído, na boca do estômago. Solucei mais um pouco.
- Eu queria ficar sozinha. – murmurei, então, soando alto no silêncio aterrador que tinha se espalhado entre nós.
Algumas concordâncias, e então um a um todos saíram. Sam por último, parou na porta e virou pra trás, com um meio sorriso.
- Acalme-se. – pediu – Amanhã você sai daqui, e não vai demorar muito até a Yara sair também. Vai ficar tudo bem.
Assenti devagar, mas no fundo eu sabia que não estava acreditando nem um pouco nessa promessa vazia.
Estendi a mão pra alcançar o copo de água que havia sido deixado na mesa ao lado da minha cama. Tudo o que eu consegui foi empurrar a mesa para longe. Bufei de frustração e tornei a me esticar, fazendo doer meu corpo.
Então o copo simplesmente levantou e voou até mim.
Só então eu percebi. Quanto tempo eu tinha passado inconsciente a esse fato? Com o copo nas mãos e toda a minha sede indo embora, substituída pela surpresa, percebi que aquela nem era a primeira vez nos últimos dias.
O incêndio, o baú, a jarra.
Eu tinha meus poderes de volta.
Oh. Meu. Deus.
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