Nesta cena, Malena está em sua nova casa, algumas semanas após o incêndio na Casa Azul. Ela acabou de se mudar e está ainda se acostumando ao quarto novo, quando Adam a surpreende, enfeitiçado e transtornado. Esta cena é parte de um capítulo inteiro que foi excluído por não funcionar mais na trama depois que ela foi refeita na terceira revisão. Pessoalmente, é uma cena que eu nunca gostei. O intuito dela era fazer pairar a primeira grande ameaça sobre Malena, mas na verdade se tornou uma cena sem graça, mal feita e que não traz consequências muito maiores pro final do livro. Depois da segunda revisão, decidi que precisava tirar isso e trocar por algo pior e mais perverso... que vocês só vão ver quando o livro sair XD Mas por enquanto, podem ficar com este trechinho...
Deixei meu corpo cair sobre a cama nova, me arrependendo quase que de imediato. O colchão era meio duro, e o travesseiro era fofo demais. Bufei, enquanto me sentava e colocava a cabeça nos joelhos, me sentindo exausta sem motivo aparente. Então, alguém bateu à porta.
- Entre. – falei, erguendo a cabeça.
Era Adam. E ele estava horrível.
Quando meu irmão entrou, me pus de pé num segundo. Ele parecia tão mal que estava até difícil reconhecê-lo. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, do tipo que indica que alguém não tem dormido por dias a fio. O cabelo estava bagunçado e parecia sujo, a testa estava suada e as roupas não estavam limpas. Contudo, a despeito do seu estado lastimável, ele sorria com uma alegria boba, como se estivesse vendo um pequeno milagre diante de si.
- Adam, o que...? – eu comecei a dizer, indo até ele. Ele estava cheirando a suor e cansaço.
- Ah, Malena, você está aqui! – ele exclamou, com uma voz tão fraca e boba quanto sua aparência indicava. Então ele me deu um abraço, jogando quase todo o seu peso pra cima de mim, praticamente me derrubando no processo.
- Ei, ei, o que aconteceu com você? – eu perguntei, o afastando de mim. Estava me sentindo melada só de encostar nele, então percebi uma coisa – Você... você está fervendo, Adam!
- Isso não é importante, não é importante! – Adam disse, balançando a cabeça. Era como vê-lo na sua fase mais infantil, só que em corpo adulto – Você está aqui, e quando eu contar a ela, ela vai ficar tão feliz!
- Como não é importante, Adam? Céus, só... – coloquei-o sentado na minha cama – Fique sentado aí e eu vou chamar a mamãe pra darmos um banho em você, ta bem?
- Não, Malena, não, você não entende! Fique aqui, você tem que ficar comigo!
- Adam, eu não vou demorar. Você está febril, deve estar delirando...!
Caminhei para a porta e a abri, mas de repente, uma força maior a fechou e me travou contra a porta. Eu gritei de susto, e lentamente, fui virada a encarar um Adam de aparência subitamente mais forte e furioso segurando a mim e à porta, me olhando com olhos que pareciam furar minha pele.
- Não vai sair daqui! – ele disse, com a voz tão grave e tão objetiva que me fez tremer – Ela me disse para acompanhar você aonde você for! Você fica!
- Ela? – indaguei, confusa, sem poder impedir minha voz de tremer um pouco. Os olhos de Adam pareceram brilhar e ele derreteu-se por um momento.
- Shiny.
Tão logo ele disse o nome, eu entendi tudo. Uma nova determinação me encheu, e, com todo o meu poder, eu fiz força e o empurrei para longe, fazendo-o atravessar o quarto e cair sobre a minha cama com um baque quase surdo, exceto pelo ranger da madeira da cama. Abri a porta, fechei-a e corri escada abaixo, me sentindo mais nervosa e assustada do que me sentia em muito tempo.
- Mamãe! – gritei – Mamãe, Adam está mal, ele está muito mal!
- O que houve? – a voz de mamãe ecoou pelo corredor, e logo ela apareceu pela porta da frente, assustada – Malena, por que você está gritando?
- É o Adam, mãe, ele...
- VOCÊ NÃO PODE SAIR DE PERTO DE MIM! – a voz do meu irmão mais velho bradou acima da minha, e eu gritei, pois nesse mesmo instante ele voou pelas escadas e para cima de mim.
Nós dois caímos no chão, e ele me prendeu, segurando meus pulsos com as mãos e travando minhas pernas entre as suas. Eu gritei e esperneei, me debatendo sob todos os 90 kilos de Adam, enquanto minha mãe tentava tira-lo de cima de mim, e eu ouvia passos dos meus irmãos correndo pela casa em nosso auxílio.
- NÃO! – Adam gritava para as investidas de mamãe, mas sem me soltar – ELA É MINHA! ELA DEVE FICAR COMIGO!
- Está tudo bem, querido, ela vai ficar com você, apenas solte-a! – minha mãe, num desespero incontrolável, dizia.
Eu tentava lutar sem ter de usar meus poderes, mas estava difícil. Quando Freddy e Colin chegaram e enfim tiraram Adam de cima de mim, eu estava sem ar, dolorida e quase desistindo.
- Você está bem? – mamãe me perguntou, chorando. Eu comecei a chorar também, incontrolavelmente.
- Quer parar quieto, Adam, seu idiota? – Freddy quase gritou, apertando mais o braço de Adam que estava segurando. Ele urrou em resposta.
- O que deu nele? – Colin quis saber. Eu balancei a cabeça e fechei os olhos.
- Eu não sei! – menti, soluçando – Mãe, precisamos levá-lo ao hospital, rápido!
- Vamos ter é que amarrá-lo! – Colin exclamou, e mamãe assentiu, visivelmente preocupada, com uma mão na cintura e a outra segurando os cabelos.
- Malena, me ajude a achar cordas ou fita adesiva pra travar o seu irmão! – me disse, então. E eu obedeci, passando com dificuldade pelo corredor estreito e começando a revirar a casa.
Foi uma missão difícil, mas logo conseguimos prendê-lo com muitas cordas e fita adesiva, e Freddy e Colin o enfiaram no carro. Antes que mamãe ligasse o carro e fosse, deixando apenas a mim pra trás, pude ouvir Adam gritando, descontrolado, de dentro da van:
- É TUDO PARTE DO PLANO, MALENA!
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